quinta-feira, 3 de agosto de 2023

#01 - Olá / O cliente nunca tem razão

Olá, queridos. Eu não faço ideia do que será deste espaço. Certamente um grande acúmulo de pensamentos, coisas que eu vejo por aí, assisto, leio e tudo mais. Já faz um tempo que sinto essa vontade de sair escrevendo qualquer coisa, só não sabia como e nem aonde. Enfim, isso pode ser o princípio de algo que eu não sei como será mantido, diária, semanal ou quinzenalmente. Tudo vai depender do nível de paranoia dos dias que passam.

Sejam bem-vindos e sintam-se em casa.

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Há um áudio que circula nas redes há um tempo. Nele, durante uma conversa com uma amiga, a moça que protagoniza a história descreve um date com um rapaz. No encontro, nas preliminares de um sexo casual, ele pergunta: “você gosta de ser humilhada?”. Ela prontamente responde: “moço, eu trabalho com atendimento ao público, sou humilhada todos os dias”. Essa introdução serve para destacar minha honesta reação e opinião diante do relato: ela está coberta de razão.

Trabalhar com o público requer paciência. Se você tem uma boa desenvoltura, fácil comunicação e habilidade para se desdobrar diante de pessoas complicadas, pode ser algo um pouco mais tranquilo. Mas, se você é historicamente tímido e introvertido, já tendo tido dificuldades básicas para se comunicar com qualquer ser humano, o desafio se torna maior. E é óbvio que este último exemplo é totalmente autobiográfico. Se essas dificuldades com relações humanas são apenas eu vivendo as consequências por ter sido este tipo de adolescente no ensino médio, provável que sim. Seria o ideal que eu estivesse na terapia dizendo isso em vez de escrever aleatoriamente? Mais ainda. Enfim, abri um leve parênteses no assunto e já me perdi, mas recuperarei o raciocínio logo.

Trabalho numa loja voltada à saúde. Assim, todo o tipo de gente a frequenta. Como em qualquer ramo comercial, acabamos lidando com pessoas um tanto desagradáveis (xingamentos internos enquanto escrevo). Seja um médico ou advogado com o queixinho empinado, passando pelo sujeito engomadinho de classe média alta e acha que é rico (leia-se pobre premium), até mesmo a senhora aposentada com carinha de neta de escravocrata. Tem de tudo. Você traz um rosto simpático, dá um bom dia/boa tarde (o mínimo que se exige de uma boa educação), mas não recebe de volta. Escuta pessoas no alto de suas arrogâncias exigindo coisas impossíveis, utilizando-se da famigerada carteirada, numa tentativa de impor o prestígio de sua profissão (geralmente advogados) ao trabalho honesto de alguém que apenas quer lhe orientar em suas compras. Nessas horas, eu sinto um refluxo, como se uma sequência de VAI TOMAR NO C* viesse em direção ao meu esôfago, chegando até a faringe, mas me obrigando a engolir de volta.

Sei que acontecimentos como esse não são exclusividade do ramo em que estou, mas invejo os que trabalham com outro tipo de público que, pode ser até nichado, mas se mantém próximo do que a pessoa é de alguma forma. Às vezes, os jovens me desesperam, mas seria mais fácil lidar com eles. E eu jamais cuspiria no prato em que como, considerando que ele paga minhas contas e parte do meu sustento, mas ganhar pouco para lidar com gente merda numa rotina repetitiva se torna desesperador com o tempo. Contudo, esse período me fez adotar uma espécie de ditado que tornou tudo libertador. Enquanto consumidor, não me excluo dele, mas me mantenho atento para não me tornar uma das referências na ideia de que, como o título sugere, o cliente nunca tem razão.

(Ou eu escrevia, ou chorava no trabalho. São escolhas.)